Aos 37 anos, Rafinha prolongou seu bom momento no futebol brasileiro. Nesta temporada, o lateral-direito assumiu protagonismo e papel de líder de um São Paulo que, depois de oscilar e trocar de técnico, chega a seu melhor momento em 2023.

Classificado para a semifinal da Copa do Brasil – com um gol de Rafinha no jogo de ida das quartas de final contra o Palmeiras –, na quarta colocação do Campeonato Brasileiro e nas oitavas de final da Copa Sul-Americana, o Tricolor tem a confiança ao seu lado e pode fazer diferente neste ano após os vices de Sul-Americana e Paulistão de 2022.

– Eu falo para eles: “Quem sempre chega uma hora ganha”. Chegamos no ano passado, a gente já sabe qual que é a receita, sabe o que a gente pode fazer e o que não pode fazer. Porque você vai em uma, perde e é difícil outra oportunidade. Se você tem a oportunidade de fazer de novo, faça por onde. Lembra como foi no passado: perdemos. Então esse ano vamos fazer diferente. Vai criando uma casca, vai criando uma identidade. Tudo o que aconteceu no ano passado, os jogadores que ficaram, criaram essa casca – disse Rafinha, em entrevista ao ge.

Conquistar uma taça com a camisa do São Paulo se tornou uma obsessão de Rafinha. Torcedor declarado do Tricolor paulista, o lateral-direito diz que sonha diariamente com esse dia.

– Sonho muito com isso. Muito mesmo. É um pensamento diário. Eu me imagino, ainda mais quando passo nos corredores cheio de quadro na parede, com vários títulos. Seria legal, né. Seria legal ter uma foto minha ali também com um troféu. Seria a cereja do bolo, para coroar a carreira.

Atual capitão do time de Dorival Júnior, Rafinha tenta passar todos os seus conhecimentos aos demais jogadores do elenco na busca pelos sonhados títulos. O jogador é o principal líder do elenco, mas isso não significa que seja distante dos mais jovens.

– Eu brinco com eles aqui, eu dou uma bagunçada também, né? Tem hora pra tudo, tem a hora da resenha boa também. Eu falo pra eles, “Não faz isso, faz isso, faz aquilo”. É uma molecada boa, adoro eles, eles também gostam. Claro que quem está jogando está sempre feliz, então a gente procura sempre para quem não está jogando estar perto, deixando o cara motivado, não deixar o cara de lado. Às vezes o cara não está jogando, joga dois, três jogos e acha que está fora e começa a não treinar bem. A gente já chega para ele e fala: “Calma, não deixa cair, não é porque não jogou os últimos jogos… Daqui um pouco quando você menos espera o treinador te coloca”. A gente tenta deixar todo mundo motivado.

Veja mais trechos da entrevista exclusiva com Rafinha:

Você assumiu a função de capitão do São Paulo. E muito mais que a braçadeira, você realmente tem representado esse papel de líder. Como tem sido isso?
– Como mais velho do time, um jogador mais experiente, eu já vi muita coisa no futebol. A gente sabe o momento, o que vai a gente vai encontrar nos jogos. A gente sabe quando as coisas estão fluindo, está dando dois, três a zero, é uma maravilha, todo mundo joga tranquilo. Mas quando você está na adversidade, no perigo, no jogo difícil, na tensão, ali a gente, por ter uma experiência, procura dar coragem para os caras, falar que as coisas vão acontecer. Para a gente continuar com a concentração, continuar ligado, continuar fazendo o que a gente sempre fez, não mudar o que a gente faz, não perder os princípios. É um trabalho que o professor Dorival faz todos os dias, então esse é o papel do capitão, esse é o papel do líder dentro de campo. Os caras quando estão em perigo, ele olha para você e aí você fala “não, vem cá, vamos fazer assim, calma, vamos organizar. Está errado”. Se tem um que está mais ligado, dá uma chamada.

– Eu erro também, tem dia que eu também não estou legal. Mas esse é o papel do líder, num momento difícil, dar coragem no momento em que as coisas não estão indo bem, não deixar também empolgar muito. Garantir a classificação é um momento legal, maravilha, mas não ganhamos nada. Classificação maravilhosa para o clube, para todos nós atletas. A confiança aumenta, isso é uma realidade, mas nesse momento também o capitão é importante, líder é importante. Não sou só eu, aqui tem vários capitães, mas assim não deixar empolgar, deixar deslumbrar com a classificação que isso não ganhamos nada, mas no momento mais de dificuldade eu gosto dessa parte de poder ajudar, de chamar. Na hora que o bicho está pegando, não com simpatia, mas dar um grito mais forte, uma sacudida, dar uma balançada na roseira. E aí é bom porque daí a molecada também se liga. Eu tenho bom contato com todos, escuto todos. Se tiver que cobrar, cobro qualquer um, assim como eles me cobram também.

É quase um treinador dentro de campo?
– A gente procura passar todas essas informações que podem fazer, que pode melhorar… Isso é legal cara, fico muito feliz e não é porque eu quero chamar atenção de ninguém não. Esse papel meu exerço com naturalidade e não é de agora. Fui capitão do Bayern de Munique, em todo lugar que eu passei. Só no Flamengo que não. Mas eu era um dos principais jogadores, um dos líderes do elenco. Então é natural esse meu lado, não tem nada forçado, quem me conhece sabe como eu sou e é bom que as coisas fluem, né? Deixa o ambiente mais leve, além do campo.

– Eu brinco com eles aqui, eu dou uma bagunçada também, né? Tem hora pra tudo, tem a hora da resenha boa também. Eu falo pra eles, “Não faz isso, faz isso, faz aquilo”. É uma molecada boa, adoro eles, eles também gostam. Claro que quem está jogando está sempre feliz, então a gente procura sempre para quem não está jogando estar perto, deixando o cara motivado, não deixar o cara de lado. Às vezes o cara não está jogando, joga dois, três jogos e acha que está fora e começa a não treinar bem. A gente já chega para ele e fala: “Calma, não deixa cair, não é porque não jogou os últimos jogos… Daqui um pouco quando você menos espera o treinador te coloca”. A gente tenta deixar todo mundo motivado. É difícil, infelizmente só podem começar onze. Mas nosso grupo é muito bom, molecada nota mil. A gente sempre procura estar sempre jogando uma sementinha ali, ajudando o outro aqui para o ambiente ficar bom. Quando todo mundo está no mesmo pensamento, as coisas fluem naturalmente.

O São Paulo de 2023 é mais maduro para esses momentos decisivos do que o de 2022? Você sente isso?
– O pessoal no nosso país, infelizmente pensa que o segundo é o primeiro dos últimos, não vale nada para ninguém. Eu não vejo dessa forma, claro que é ruim perder. Ninguém quer ser segundo colocado, ninguém quer ser vice-campeão, mas quem no começo do ano passado esperava que a gente ia chegar onde a gente chegou? Tem que ser realista, não é? Nós começamos a trabalhar com Rogério (Ceni) no ano passado, ninguém acreditava na gente e chegamos na final do Campeonato Paulista, na Sul-Americana, chegou na semifinal da Copa do Brasil. Então ninguém esperava. Com essas derrotas nas finais, você cria uma casca. Já perdi muito, mas já ganhei muito também, mas para os moleques que estavam tendo a oportunidade de jogar as primeiras decisões da carreira ou a segunda, terceira, cria uma casca.

– Eu falo para eles: “Quem sempre chega uma hora ganha”. Chegamos no ano passado, a gente já sabe qual que é a receita, sabe o que a gente pode fazer e o que não pode fazer. Porque você vai em uma, perde e é difícil outra oportunidade. Se você tem a oportunidade de fazer de novo, faça por onde. Lembra como foi no passado: perdemos. Então esse ano vamos fazer diferente. Esse ano a gente tem a oportunidade de novo, podemos fazer, vamos fazer desse jeito. Então vai criando uma casca, vai criando uma identidade. No ano passado, o jogo que fizemos contra o Flamengo na semifinal, de que valeu? Nada. A gente sai do campo acabado. Uma partida dessa que a gente fez e não conseguiu ganhar o jogo. Tudo o que aconteceu no ano passado, os jogadores que ficaram criaram essa casca.

A chegada do Dorival ajuda de alguma forma nessa busca por títulos?
– Claro que ajuda. Campeão da Libertadores, campeão da Copa do Brasil. Então é claro que é bom ter um cara desse do lado. Energia boa. Quanto mais campeões no time, mais você chama títulos. Tem que ter campeões. Tem aquela paixão, o tesão de pegar no troféu , de ser campeão. Esse é o ponto positivo da chegada do Dorival. Tenho certeza que esse ano a gente vai chegar longe nas competições.

E como é o Dorival no dia a dia?
– O Dorival só tem cara de bonzinho (risos). É um cara nota mil, coração gigante, profissional da melhor qualidade. Gosto do jeito que ele conduz o grupo, que ele consegue cercar a rapaziada de todos os lados. Se ganha ele está ali, se perde também. Nunca esta satisfeito com nada, cobra bastante da gente, não gosta de dar folga… Ele é um cara que não deixa a peteca cair, não deixa ninguém se acomodar. Ganhamos, no dia seguinte é treino pegado. Mas é importante, porque todo mundo fica motiva, se sente importante. Ele cobra na mesma intensidade quem está jogando e não. É um treinador que tem para fazer, tem os princípios dele, método dele. Está agregando muito para a gente. Ele é sério, não tem risadinha com ele não.

São Paulo é o último clube que você vai jogar na carreira?
– As redes sociais é o que mais falam. Minha filha esses dias perguntou se eu ia parar de jogar e perguntei o porquê (risos). O pessoal está querendo me aposentar antes do tempo… Eu estou desfrutando, me sentindo bem, não me machuco, lesão muscular. Joelho e tornozelo têm quilometragem alta, são 20 anos na estrada, então é normal. Mas não estou pensando nisso agora não. Quero aproveitar cada jogo, cada momento. Sei que estou caminhando para a reta final da minha carreira. Mas quero conquistar aqui no São Paulo. Conquistei em todos que passei. Seria uma pena não conquistar aqui, mas tem coisa boa reservada para a gente esse ano. Tenho certeza de que Deus tem uma coisinha boa para a gente no final do ano, com certeza.

Você acha que esse seu pensamento incentiva a molecada? Eles te olham, um cara que ganhou até Liga dos Campeões e com esse tesão de ganhar algo pelo São Paulo.
– Eu falo para eles todo dia. Tem que ter fome, se não for campeão não marca. Tem que ganhar títulos para ser lembrado. Ganhar jogos o torcedor esquece, agora título não. Título é legal, ter uma foto com o troféu ali. Ainda mais com o São Paulo, que é o clube do meu coração. Seria para fechar com chave de ouro um título aqui no São Paulo. Mas devagarinho, passo a passo, pés no chão que certeza que esse ano a gente vai chegar de novo.

Você falou dos garotos e vemos que muitos deles estão especulados na Europa. Você fala com eles sobre isso, até passar sua experiência?
– Converso diariamente com eles, porque é normal, não tem jeito. A molecada é boa. E é lamentável eu falar isso, mas é a realidade, eles se destacam e vão embora. A base do São Paulo é muito forte. Sobem e parece que já jogam há 10 anos no profissional. Já já vão ser comprados, vão para a Europa. A gente procura falar para não queimar etapa, não se precipitar, não se empolgar com as notícias. Quando time grande quer vem cá, pega e leva. Falo direto para eles. “Fica tranquilo que se Real Madrid, Barcelona, Manchester se quiserem vão vir pegar. Pode ser qualquer valor. Não tem essa. Vai por mim”. Rumor, veio ver jogo… Esquece isso. Às vezes empresário fala, os caras jogam na imprensa para ter ibope. Eu falo para ter paciência que quando eles querem vem e pegam. É tudo natural, não tem essa. Mas mexe com a cabeça do moleque, não tem jeito. Procuro dar conselho bom para ter paciência e focar aqui que as coisas acontecem naturalmente.

Você é um torcedor declarado do São Paulo desde a infância. Há dois anos você chegou no seu clube do coração e acredito que é diferente ser um jogador do seu time do coração. Hoje, o que o São Paulo representa para você?
– Eu cheguei no São Paulo com uma cabeça boa, depois de fazer minha carreira na Europa. Hoje eu entendo, se eu fosse mais jovem poderia ser diferente. Mas hoje eu tenho a noção do que é jogar no São Paulo, que era um sonho que eu tinha e acompanhei o São Paulo na época mágica. Na Alemanha também vi o título de 2012, vi aqui o de 2021. Em 2013, o São Paulo foi jogar a Copa Audi, na Alemanha, e eu falei pros caras que era o meu time. E eles brincavam comigo, troquei camisa com o Rogério, é uma sensação diferente. Estar aqui, num clube que eu gosto, defender um time que sempre torci, meu irmão também torce. É diferente. O que eu sentia quando eu era moleque e poder jogar aqui depois de fazer minha carreira toda e poder representar bem ainda é gratificante. É bom demais. Eu já vivi de quase tudo e ainda poder marcar um primeiro gol, em um Morumbi lotado, num clássico foi especial. Está sendo especial.

E esse gol, como foi esse pós? Porque é raro né… Seu último gol tinha sido em 2018.
– Meus gols têm que ser vistos aí, porque no Flamengo eu fui cruzar, o cara cortou e a bola entrou: gol contra. Na Grécia chutei, a bola desviou e deram gol para o cara. Agora também desviou no cara do Palmeiras e foi gol (risos). É difícil um lateral fazer gols, ser artilheiro. Se achar um artilheiro aí muda de posição (risos). Eu fiquei feliz, o gol saiu em um momento bom, é bom marcar gols. Saiu em um momento certo. Meus filhos, minha família sempre falam, minha mãe fala que eu tinha que fazer um gol no São Paulo. Ela fala que passa meus melhores momentos no time e não passa um gol meu (risos). Estava na hora de sair um golzinho meu e naquele momento, jogo apertado. Foi bom para os meus filhos verem um golzinho meu (risos). Os caras aqui pegaram no meu pé que eu não sabia comemorar. É claro, pô, eu nunca marco. Fui comemorar com minha esposa e filhos. Meus primos, família toda estava lá e fui comemorar com eles. Foi legal. Foi um momento especial.

Você chega no São Paulo em um momento turbulento no clube, com problemas financeiros, a estrutura. Quando você chegou, você reparou o que precisava mudar? Acredita que está em um processo de mudança?
– Essa mudança é nítida, vemos o esforço que a diretoria vem fazendo. Não estamos aqui para puxar a sardinha para o lado de ninguém, mas a gente vê o esforço que fazem para que as coisas funcionem no São Paulo. Não cabe a mim falar isso, mas em outras diretorias não sei o que aconteceu, mas deixou o São Paulo um pouco fragilizado. O São Paulo não pode ficar assim, se tornar um time normal, que entra na competição para disputar. Não. O São Paulo é um clube gigante, São Paulo tem que estar figurando entre os campeões, disputando Libertadores. São Paulo é time de Libertadores. Vários amigos que eu encontro o pessoal fala que a Sul-Americana não combina com o clube. A diretoria tem colocado as coisas em dia, contratando, mudando a sala de musculação, o Reffis, vestiário, gramado, mudando o Morumbi, melhorando a cozinha aqui da Barra Funda… Tudo está melhorando. Claro que é um processo, não é fácil. Tem que ter dinheiro, se não tiver dinheiro não funciona. O mais importante é que o torcedor tem feito a parte dele, lotando estádio, renda boa. Jogo em qualquer horário é 50 mil pessoas. A gente torce para que as coisas continuem assim para o São Paulo voltar ao sucesso. Nessa parte tem que reconhecer que a diretoria tem feito a parte dela.

É o seu maior sonho hoje levantar um título com a camisa do São Paulo?
– Sonho muito com isso. Muito mesmo. É um pensamento diário. Eu me imagino, ainda mais quando passo nos corredores cheio de quadro na parede, com vários títulos. Seria legal, né. Seria legal ter uma foto minha ali também com um troféu. Seria a cereja do bolo, para coroar a carreira.

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